«Hoje apetece-me…», de Manuel Bartilotti Matos

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Hoje apetece-me ser um morango…

morango

É absolutamente incrível o que se passa neste mural. Há uma nítida e indisfarçável segregação do reino vegetal. Senão vejamos: este senhor já incarnou nos mais diversos animais, já pôs pedras, comboios, tapetes e outras coisas a falar, e, no entanto, em relação a nós, pertencentes ao imenso e imensamente belo reino vegetal, apenas por uma vez se deu ao trabalho de invegetar, por acaso numa linda árvore, o embondeiro, há muitos, muitos posts atrás… Parece que há um certo racismo, melhor dito, vegetalismo, contra nós.

Vá lá, que hoje se lembrou de mim, um fruto, quiçá o mais belo entre todos os frutos. Eu bem sei que há outros quase tão belos como eu, como a laranja, o maracujá, a melancia e outros mais. Outros há que fazem lembrar, e até dão origem a metáforas de bastante mau gosto, certas partes íntimas da anatomia humana, como a banana ou o limão, mas digam lá, como nós, não há. Parecemos um coração corado, luzidio, apetitoso…

E, quanto ao sabor, pedimos meças a qualquer outro dos nossos irmãos. Bem sei que gostos não se discutem, e que o ananás, o abacaxi, a manga, o pêssego, a maçã, enfim, quase todos os frutos, a bem dizer, são deliciosos… Mas algum se comparara a nós? Não, declaradamente não, e isto não é vaidade ou arrogância. É uma verdade cristalina que não admite contestação. E depois somos comidos e apreciados das mais diversas maneiras: numa simples salada com ou sem açúcar, com ou sem chantilly, com ou sem natas, com ou sem vinho do Porto ou da Madeira. Em forma de compota ou em deliciosas tartes. Em indescritíveis gelados, maravilhosos batidos ou fresquinhos granizados.

Haverá, até, fruto mais erótico? Não, e para quem tiver dúvidas aconselho a que veja, ou reveja, o maravilhoso filme Nove semanas e meia. Está lá tudo, e como uma imagem vale mais do que mil palavras não é preciso dizer mais nada…

 

In «Hoje Apetece-me…», de Manuel Bartilotti Matos, Ed. Cordão de Leitura

 

Hoje apetece-me ser um chocolate…

chocolate

Amargo, doce ou muito doce… Branco, preto ou castanho… Simples ou recheado com nozes, amendoins, avelãs, cerejas, ginjas, ou um qualquer licor… Em estado sólido, semi-sólido, ou líquido… Muito quentinho, como no chocolate à espanhola, ou fresquinho, como num delicioso gelado, ou até quente e frio ao mesmo tempo…

Transformado numa mousse caseira, ou em bolos de comer e chorar por mais, (e do que eu gosto mais é do fondant de chocolate)… Suíço, belga, francês ou português, qual a melhor confecção? Venha o diabo e escolha…

Em forma de frutos do mar, de coração ou noutra qualquer… Coloridos e decorados ou polvilhados com açúcar… Proveniente de África, da Ásia ou das Américas, autêntico cidadão do mundo… Com poderes afrodisíacos ou como lenitivo para carências afectivas…

E, como é frequente uma caixa de chocolates ser para os amantes tímidos, uma afirmação do amor que não se sabe dizer.

Ah!, como eu gosto de chocolate!

Por isso vos aconselho a que sigam Fernando Pessoa:

(Come chocolates, pequena;
Come chocolates!
Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates.
Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria.
Come, pequena suja, come!
Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes!
Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é de folha de estanho,
Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida.)

E muito obrigado pelos bombons que me oferecem todos os dias, ao lerem e comentarem os meus posts

 

In «Hoje Apetece-me…», de Manuel Bartilotti Matos, Ed. Cordão de Leitura