Descrição
Sinopse
Por entre as ruas, os becos, as escadas, as esquinas e travessas do Porto. É desta forma que César Santos Silva, ao longo de 146 topónimos, nos convida a explorar uma cidade que gosta das suas mulheres e as homenageia, perpetuando-as como parte si, nas suas artérias, nas suas veias. Mulheres que rezaram, pintaram, escreveram. Mulheres que traçaram planos indizíveis com crianças ao colo e projectaram, silenciosamente, um futuro. Mulheres que sonharam um homem, um deus, uma ideia. Elas também são as ruas do Porto, este Porto no feminino.
Prefácio (excerto)
O Porto faz parte do grupo muito restrito de cidades «no masculino».
Nascemos «no» Porto. Vamos «ao» Porto. Aquilo é «do» Porto… E quando se concebeu uma estátua que representasse a cidade, a figura escolhida foi, obviamente, masculina: a do guerreiro «o Porto».
São, com efeito, muito poucas as cidades mundiais que emparceiram com a urbe tripeira nesta excepção ao género toponímico feminino dominante.
Curiosamente, uma boa parte dessas excepções corresponde a cidades-Estado (de que são exemplo o Mónaco, o Vaticano, o Dubai…), o que pareceria vir dar razão à popular e bairrista máxima de que «o Porto é uma nação!» Mas é claro que há também casos como o do Rio de Janeiro, do Montijo ou do Cairo…
Todavia, e não obstante esta sua particularidade «masculina», a verdade é que a cidade sempre foi fortemente marcada pelo eterno feminino. Desde logo, e já em época longínqua (ou lendária, se aceitarmos a explicação da fantasiosa reconquista da cidade por uma armada de gascões em 988), o Porto foi consagrado à entidade feminina mais importante na devoção e religiosidade católicas: a Virgem.
(…) A presença e a incontornável influência feminina na cidade não se limita, contudo, à dimensão lendária. São múltiplos os exemplos do seu protagonismo ao longo da história do Porto. A lista seria fastidiosa.
(…) Numa povoação que é conhecida por ser a «cidade do trabalho», também as mulheres se evidenciaram, de diversos modos, no bulício mercantil e artesanal do burgo. E se outros topónimos não houvesse, a resistente calçada das carquejeiras aí está para nos recordar.
Chegados ao século XIX, e de um modo evidente ao longo do XX, as mulheres e o seu papel activo em múltiplas frentes da sociedade começam a ganhar nome e rosto. E o Porto foi, não raras vezes, e apesar das resistências e dos convencionalismos, uma cidade protagonista nessa afirmação e emancipação. Médicas, engenheiras, artistas, políticas, investigadoras, professoras, beneméritas… um número muito significativo de mulheres irá evidenciar-se e, por isso, muito justamente, ser recordado na toponímia da cidade. É de tudo isto, e muito, muito mais, que nos fala o livro que tem entre mãos. Ao longo das páginas seguintes deixe-se, pois, conduzir pela mão e mestria do César Santos Silva, pelas ruas, vielas, congostas, praças e escadas da cidade. Profundo conhecedor da história do Porto e da sua toponímia, o autor é um guia esclarecido e esclarecedor. De A (que o mesmo é dizer da Rua Adelaide Estrada) a Z (que neste caso é V, relativo à Rua das Virtudes), César Santos Silva revela-nos 146 topónimos femininos do Porto. Uma cidade escrita no masculino, mas que não renega a sua faceta feminina.
Joel Cleto